Berço da boêmia carioca desde o início do século XX, a Lapa, que entrou em decadência e foi retomada a partir da década de 1990, a por novos descaminhos. O local, que é uma das maiores atrações turísticas da cidade e tem a famosa e badalada Escada do Selaron, deixa de ser um reduto de malandros e personagens ao estilo de Madame Satã, para dar lugar a criminosos de alta periculosidade e facções criminosas que protagonizam um movimento de invasão de Sobrados históricos.
Atualmente, a região se tornou um feirão das drogas a céu aberto e nos casarões abandonados e indevidamente invadidos por criminosos do Comando Vermelho, que também comercializam os entorpecentes pelas esquinas do bairro do Centro. Esse cenário alterou a rotina de moradores e comerciantes, que sentem os feitos da criminalidade e da insegurança.
Segundo pessoas ouvidas pelo jornal Extra, a alta incidência de assaltos impôs mudanças ao funcionamento dos bares, que antes funcionavam até duas ou três horas da manhã, e agora fecham à meia-noite, para evitar que os clientes sejam assaltados.
Por ser uma área de grande atração turística, a Lapa chamou atenção do tráfico de drogas, especialmente pela sua alta concentração de moradores de rua, que alancaram os pontos de venda na região.
A Travessa do Mosqueira, que liga a Rua Joaquim Silva à Avenida Mem de Sá, se tornou um grande ponto de comércio de drogas, com praticamente todos os seus imóveis sendo ocupados por traficantes e bocas de fumo. Boa parte da parte das edificações, que estão praticamente em ruínas, pertence ao Governo do Estado: é emblemático o prédio invadido na esquina da Mem de Sá com a Travessa, assim como outros diversos no quarteirão mais próximo dos Arcos. O abandono viabiliza a prática de diversas ilegalidades e caminhar pela travessa se tornou uma experiência trevosa.
Como se não bastasse o tráfico de drogas, aos sábados e domingos, a Rua Joaquim Silva é fechada, na altura da Travessa do Mosqueira, para a realização de um grande baile funk, no qual diversos crimes são cometidos.
Na Escadaria Selarón, ponto turístico muito visitado na Lapa, em algumas casas que dão frente para a atração, no trecho entre a Lapa e Santa Teresa, funcionam pequenas bocas de fumo, nas quais são comercializados entorpecentes de todos os tipos. É comum ver jovens transitando com cigarros de maconha nas mãos.
Quem a pela região já reconhece para que servem as filas formadas diante dos casarões abandonados: venda de drogas. Na Rua Joaquim Silva, homens chegam a controlar e organizar o movimento dos usuários de droga para não chamar a atenção.
“As bocas de fumo da Lapa não são pequenas. É possível encontrar locais com filas de 40 a 60 pessoas para comprar droga. Toda essa venda gera um lucro alto para a facção. Não é à toa que, toda vez que a polícia estoura um local, eles logo procurem outro para se instalar”, disse um policial ao Extra.
No início do ano, uma operação policial resultou na apreensão de mais de quatro mil unidades de entorpecentes, com o prejuízo dos bandidos somando R$ 100 mil.
As autoridades policiais investigam se vendedores da Lapa estão pagando taxas a traficantes do Comando Vermelho para usar os casões invadidos pela facção. Em alguns desses locais, funcionam distribuidoras de bebidas e de gelo, bares, confecção e salão de beleza.
No início de abril, a Polícia e a Prefeitura fizeram fiscalizações nas ruas próximas à Travessa do Mosqueira, a cerca de 200 metros dos Arcos da Lapa e do Circo Voador, para investigar se há uma relação dos vendedores com o traficante Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, se há outras irregularidades, como o furto de luz e água, e ausência de alvará de funcionamento.
Há imóveis invadidos que fazem parte da memória do carioca, como a casa de shows Asa Branca e o restaurante Cosmopolita, fundado em 1926. Na ação, quatro pessoas foram detidas. Funcionários da Light relataram aos policiais que já foram expulsos por traficantes que atuam no local. A maioria destes imóveis invadidos pertence ao governo estadual, que parece pouco se importar com a situação.
Na mesma região, também no início de abril, a agentes da 5ª DP (Mem de Sá) estouraram um ponto de venda de drogas, onde funcionava um bunker do tráfico. A fortificação contava com portas de aço, agem secreta e cômodo isolado com estrutura reforçada. O bunker era usado pelos bandidos como esconderijo e rota de fuga para escapar de operações policiais. As portas e a estrutura reforçada pesavam cerca de 300 quilos e foram removidas.
Segundo um policial ouvido pelo Extra: “A Lapa está abandonada. Não adianta só a polícia fechar as bocas de fumo, porque eles logo encontram outro local. É preciso uma fiscalização mais intensa desses casarões, que, além de servirem como ponto de drogas, ainda oferecem risco físico a moradores e visitantes”.
Outro desafio enfrentado pelas autoridades policiais é a dificuldade de manter traficantes, pois muitos deles são enquadrados como usuários e não ficam presos. Em dezembro de 2025, um traficante que vendia drogas na Ladeira do Castro, entre Lapa e Santa Teresa, foi preso três vezes em apenas 12 dias. Somente na última incursão, o criminoso teve a prisão em flagrante convertida em preventiva. Além disso, há olheiros espalhados pelos pontos de vendas de drogas para avisar sobre a chegada da polícia.
As bocas de fumo locais, segundo a Polícia, são divididas entre os traficantes Wilton Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha; Cláudio Augusto dos Santos, o Jiló, gerente do tráfico no Morro dos Prazeres; e Paulo César Baptista de Castro, o Paulinho Fogueteiro, controlador do tráfico nos morros Fallet e Fogueteiro, em Santa Teresa. Os três, que pertencem ao Comando Vermelho, somam mais de 25 mandados de prisão em aberto na Justiça.
Os bandidos controlam pontos de vendas de entorpecentes em várias regiões da Lapa, incluindo pontos turísticos, como a Escadaria Selarón, onde traficantes já foram vistos oferecendo drogas.
Ao jornal, a Polícia Militar afirmou que realiza rondas e abordagens, com carros e motos, rotineiramente na região para garantir a segurança. A Polícia Civil disse que atua continuamente para combater o tráfico de drogas e o crime organizado na área.
A Secretaria de Ordem Pública (SEOP) destacou, por meio de nota, que desde julho de 2022, foram apreendidos 1.014 materiais para uso de entorpecentes. A SEOP reforçou que realiza ações regulares de ordenamento urbano, desobstrução de área pública e acolhimento de moradores de rua, em parceria com a Secretaria de Assistência Social (SAS).
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), uma equipe do Consultório na Rua atua todos os dias na Lapa, onde cerca de 100 moradores de rua são assistidos por serviços multidisciplinares de saúde. Quando a pessoa concorda é encaminhada para unidades do Programa Seguir em Frente, responsável pelo Ponto de Apoio na Rua (PAR) e outras medidas de proteção social.
A matéria mistura sem justo fundamento criminalidade com questão social. O único ponto de convergência no tema é a ausência do Estado. O déficit habitacional, o desemprego, a informalidade e a falta de projetos robustos para solucionar as ocupações irregulares levam à degradação dos locais e favorecem ao tráfico e delitos diversos. Não é apenas uma questão de repressão policial, o problema é muito mais amplo envolvendo: corrupção, fiscalização, sonegação, legislação e principalmente investimentos públicos. A situação da Lapa não é uma exclusividade do Rio reflete-se em todas as grandes capitais do país.
Mas não é a Lapa o grande modelo de negócios do Rio para receber bem turistas na cidade, o padrão “bar, cerveja e resenha”? Outro dia, cantavam versos e prosas tipo “como a Lapa está linda, revitalizada e vibrante” ou “a partir da Lapa o Centro será retomado. Só que, diferente de outras metrópoles que vendem circuitos gastronômicos, excelência e bem estar, o modelo da Lapa sempre foi um Praça Mauá 2.0. Revendo a história, a Mauá se sustentava com o Porto e os marinheiros que vinham nos navios e seus bares e night-clubs, prostituição e drogas. Tirou-se o oxigênio, no caso, o Porto e a Mauá se implodiu. A Lapa é algo refeito achando que iria dar um resultado diferente. Revitalizaram-se os bares, até temos boas redes de bares que aportaram alí, mas deixaram a venda ambulante crescer, marcar ponto implantando símbolos da malandragem aqui e ali e pronto: temos novamente o modelo da Mauá do século ado. E isso enterra investimentos, como os condomínios e prédios que alí estão. O futuro próximo é sombrio. Quem puder vai embora. Os locatários hoje moradores irão primeiro e virão os de menor poder aquisitivo. Os melhores bares irão a seguir até restarem os “poeira” e “rasta-pé”. Já viram isso na cidade? Em vários bairros. Aqui, trocam a qualidade e excelência que poderia ser a Lapa e até Santa Teresa, a “Montmartre” carioca, que poderia gerar valor imobiliário com excelentes bares, cafés e restaurantes para botecos de balcão mal-cuidados e com uma frequência da qual um pai não entraria com seu filho(a) ou neta(o) pra comprar um refrigerante ou água. Parabéns aos gestores envolvidos.
Não é um simples caso de invasão de imóveis abandonados para a venda de drogas aos moradores de rua. Trata-se da instauração de um regime de barbárie pelo crime organizado; é o estado paralelo ocupando os espaços outrora civilizados que o governo abandonou, não raro com a conivência ou participação ativa de integrantes do próprio governo e de setores da sociedade civil.
Exato. O RJ está assim pq políticos, instituições, empresários e pessoas de poder são parceiras nas falcatruas. Ninguém solta a mão de ninguém. Cai um, caem todos.
O RJ só terá solução quando Brasília tiver uma solução primeiro. Collor foi condenado a viver em sua mansão. Cabral idem…Não tem como isso dar certo.
Uma região tão importante degradada desse jeito…
Eduardo Paes deveria fazer o Reviver Lapa quando for governador. Tornar o local seguro, habitável e bom para negócios e turismo.
A Lapa tem PM, Polícia Civil, Segurança Presente, Guarda Municipal e ainda sim…Tem pessoas andando com cigarro de maconha em ponto turístico e N bocas de fumo. É muita incompetência.
Falou tudo. Vc vê a PM de outros estados e elas não são tão incompetentes quando a carioca. São um reflexo do governador.
A Lapa e o Centro nunca tiveram muita atenção, mas a situação está injustificável. Daí vc vai ler as notas dos responsáveis e são só respostas protocolares. Está tudo largado mesmo.