Hoje, 21 de janeiro, é o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. A data, celebrada desde 2007, foi escolhida em razão do falecimento de Mãe Gilda, em 21 de janeiro de 2001, vítima de um infarto fulminante, após ter seu terreiro invadido e vandalizado. Mãe Gilda já havia levado um susto poucas semanas antes, quando sua foto foi publicada numa matéria preconceituosa pelo jornal da Igreja Universal do Reino de Deus.
A intolerância religiosa atinge principalmente as religiões afro-brasileiras. Os casos aumentaram em 45% entre os anos de 2020 e 2022, de acordo com os dados do Ministério dos Direitos Humanos. Recentemente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou uma lei que torna mais severas as penas para os crimes de violação à liberdade de crença. A lei prevê pena de 2 a 5 anos para quem obstar, impedir ou empregar violência contra quaisquer manifestações ou práticas religiosas.
A motivação dos ataques contra os cultos afro-brasileiros se dá por razões diversas. Uma delas é o racismo, afinal os ensinamentos do Candomblé vieram com os negros escravizados. Logo, tiveram as suas tradições submetidas ao sincretismo religioso, quando obrigados a se converterem ao Catolicismo, “disfarçaram” a sua fé, cultuando os Orixás nos dias dos Santos Católicos e com suas respectivas imagens, considerando a semelhança entre as divindades.
Outra razão para as perseguições aos terreiros de Umbanda e Candomblé nasceu no espaço conquistado pela Igreja Universal do Reino de Deus nos canais de comunicação. Na tentativa de estabelecer um inimigo comum entre os evangélicos e atrair pessoas para as suas igrejas, os pastores, liderados por Edir Macedo, iniciaram uma campanha de demonização e ataque à religiosidade afro-brasileira. Até um livro Macedo lançou: “Orixás, Caboclos e Guias: Deuses ou Demônios?”
O resultado foi desastroso. A cultura de espalhar tanta desinformação e inverdades sobre a Umbanda e o Candomblé se espalhou pelas igrejas neopentecostais. Terreiros foram incendiados, praticantes apedrejados, a discriminação chegou ao ambiente de ensino e profissional. Ocorrências que não param de crescer.
No Rio de Janeiro
Entre os meses de janeiro e junho de 2022, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, apresentou o Rio de Janeiro como o segundo colocado no ranking de denúncias de intolerância religiosa, só no Disque 100.
Os crimes de preconceito de crença no Rio vão desde a ofensa por parte de vizinhos e familiares até a expulsão de terreiros das comunidades pelo tráfico. A ameaça à liberdade de culto é tão grave, que até uma I, já finalizada, precisou ser aberta no Estado, a primeira a apurar a intolerância religiosa no Brasil.
Para o relator da I da Intolerância Religiosa no Rio de Janeiro, Átila Nunes, 21 de janeiro deve ser praticado todos os dias. “Não basta publicar nas redes sociais que somos todos irmãos, hoje, e virar a cara na rua para uma mãe de sento no dia seguinte. As pessoas acham, muito equivocadas, que têm o direito de ofender as entidades e os rituais afro-brasileiros, mas isso é crime e nós vamos denunciar sempre. Não se calem! Devemos ter orgulho da nossa fé”, afirmou Átila Nunes.
O relator também foi o responsável pela criação da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, a Decradi, a partir da sua Lei 5.931/11. A instalação da especializada chegou após um esforço de anos e durante a gestão de Átila A. Nunes como secretário de Direitos Humanos do Estado. Hoje, como vereador, Nunes criou leis como a que estabelece a Semana Carioca da Diversidade Religiosa, celebrada justamente na semana do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, e realizada pela Coordenadoria Executiva de Diversidade Religiosa do Rio.
“Nosso trabalho inclui compreender as adversidades que as religiões e grupos mais vulnerabilizados enfrentam.
A existência de nossa Coordenadoria na estrutura do Executivo municipal, é um marco para que a multiplicidade cultural que faz parte da nossa gente seja compreendida, respeitada e valorizada”, afirmou Márcio de Jagun, coordenador da pasta.
A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, Decradi, fica na Rua do Lavradio, 155, no Centro do Rio. Quem recomenda e celebra a conquista da especializada é a Mãe Valéria de Oxum, que cita a liberdade como um presente divino.
“A liberdade é uma dádiva de nosso pai Oxalá. Um líder que ensina o ódio, não pode ser um representante religioso. A nossa fé só promove o amor e a caridade. Para o dia de hoje, peço que reflitam, pois se dermos as mãos teremos uma única religião, a da união pelo crescimento do mundo”, desabafou Mãe Valéria.
Nossa coluna é um reflexo do caminho pela diversidade de crença. Vamos ocupar espaços e lutar juntos contra a intolerância. Não merecemos e não devemos aceitar sermos tratados com inferioridade. Somos filhos do mesmo pai e moramos na mesma casa.
Axé!