O que era para ser um cenário de lazer e tranquilidade à beira-mar se transformou em fonte constante de estresse para moradores de bairros como Recreio, Leme, Copacabana, Barra da Tijuca e Camorim. Shows, festas e música em alto volume em quiosques da orla estão tirando o sono — e, em alguns casos, até expulsando moradores de suas casas. As informações são do G1.
De acordo com dados da própria Prefeitura, a Central 1746 registrou 10.272 chamados por perturbação do sossego em bares e restaurantes apenas entre janeiro e maio de 2025. As reclamações se concentram especialmente nas áreas mais próximas da orla, mas também atingem bairros como Botafogo e Vargem Grande.
“Mesmo com as janelas fechadas, parece que estou dentro de uma boate. Crianças, idosos, ninguém consegue descansar. Isso virou um problema de saúde pública”, desabafa um morador do Recreio, que preferiu não se identificar.
No Leme, relatos apontam que o problema é diário. “Os quiosques são praticamente casas de show. Não dá para descansar, ler, estudar, trabalhar. A fiscalização só pede para abaixar o som, mas assim que os agentes saem, volta tudo ao volume anterior” reclama uma moradora.
Em Copacabana, a situação também virou rotina. “O trecho em frente ao Hilton é uma boate a céu aberto. Você não consegue nem conversar sentado no calçadão. A praia virou terra sem lei, completamente fora de controle”, afirma um morador.
O medo de se identificar é recorrente nos relatos. Muitos acreditam que alguns estabelecimentos têm relação com grupos criminosos e evitam se expor publicamente. “Tivemos uma reunião no prédio para discutir isso e convidamos os donos dos quiosques. Ninguém apareceu. Existe muito receio de que haja envolvimento de milicianos”, contou outro morador da Zona Oeste.
Decreto flexibiliza, mas promete controle
Em meio a esse cenário, a Prefeitura publicou, no fim de maio, um novo decreto alterando as regras da orla. A norma voltou a permitir música ao vivo nos quiosques, desde que restrita ao horário de 12h às 22h. Também foi liberada novamente a venda de bebidas em garrafas de vidro e a identificação dos barraqueiros nas placas.
A grande aposta, no entanto, está em um modelo de autorregulação, monitorado pela concessionária Orla Rio, que istra mais de 300 quiosques espalhados pela cidade. A fiscalização formal segue sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Ordem Pública (SEOP) e da Guarda Municipal.
Pelo decreto, quem desrespeitar as normas pode ser punido com multas que começam em R$ 1 mil e chegam à cassação do alvará na terceira infração.
Inteligência artificial promete fiscalização mais eficiente
Para tentar controlar o problema, a Orla Rio aposta em tecnologia. A empresa anunciou a instalação de sensores equipados com inteligência artificial, capazes de medir o nível de ruído em tempo real em todos os quiosques.
Esses sensores vão gerar dados que serão compartilhados diretamente com os órgãos públicos, permitindo uma atuação mais rápida e, em tese, mais eficiente.
A concessionária também anunciou outras ações:
- Criação de uma Gerência de Ordenamento, com equipes dedicadas a rondas, fiscalização e medições de som;
- Projetos técnicos de sonorização específicos para cada quiosque, considerando suas características;
- Criação do selo “Música Legal”, que certifica os quiosques que seguem as regras;
- Produção de cartilhas educativas e treinamentos para funcionários e operadores de som.
Em 2024, segundo a Orla Rio, foram feitas 181 notificações formais por irregularidades, como som alto e eventos fora do horário. Só em 2025, até agora, já são 23 registros.
Além do canal 1746 da Prefeitura, a Orla Rio também disponibiliza um WhatsApp (21) 3154-8282 para denúncias diretas de barulho e outros problemas nos quiosques.
Moradores seguem desconfiados
Apesar das promessas de fiscalização mais rígida, os moradores ainda veem o modelo de autorregulação com desconfiança. Muitos consideram que ele transfere a responsabilidade do poder público para a própria concessionária e os comerciantes.
“Parece até piada. É como pedir para o próprio infrator se fiscalizar. Já sabemos que a prática é orientar para abaixar o som na frente dos fiscais e depois voltar tudo ao volume anterior” critica uma moradora do Leme.
“Se fosse eficiente, não teríamos mais de 10 mil reclamações só neste ano. Isso mostra que o sistema simplesmente não funciona” dispara um ex-morador do Recreio, que decidiu vender o apartamento por não aguentar mais o barulho.
Do outro lado, quiosqueiros defendem a atividade
Para os donos de quiosques, como Bruno de Paula, do Coisa de Bamba, em Copacabana, é possível sim manter o equilíbrio. “O quiosque não é só lazer, é emprego, é cultura, é turismo. Só eu emprego 150 funcionários e contrato 250 músicos por mês. Estamos falando de 400 famílias que dependem disso” explica.
Ele ite que há críticas, especialmente contra música eletrônica e eventos que usam amplificadores, mas defende que o caminho é o diálogo. “Mando todo dia um vídeo para a presidente da associação de moradores do Leme, mostrando meu operador de som medindo os decibéis. Isso é o mínimo de respeito” afirma.
Bruno acredita que o modelo de autorregulação tem potencial. “Se for feito com seriedade, a Orla Rio consegue fiscalizar, e nós, operadores, também podemos nos ajudar mutuamente. O caminho é esse: diálogo, tecnologia e bom senso” defende.
Por enquanto, a expectativa dos moradores é de que, ao menos, os sensores com IA consigam fazer aquilo que os agentes municipais, até hoje, não conseguiram: garantir que o som da praia não ultrae os limites do razoável.
Praticamente é um mal de todo RJ o alto volume das caixas de som, a não ser q criem leis mais rígidas e punições mais severas isso nunca vai mudar.
A MUSICA TEM QUE SER AMBIENTE, OU SEJA, OUVIDA NO LOCAL ONDE ESTÁ SENDO TOCADA.
ISTO NÃO ATRPALHA.
SER OUVIDA NA RUA, JÁ É SHOW E PERTUBA.
DEVE EXISTIR BOM SENSO E, SE NECESSÁRIO, PERDA DO ÁLVARA.
Não entendo. Nunca vi ninguém reclamar da barulheira infernal das motocicletas e carros. Coisa mais louca.