Conhecidos por sua imagem simpática na ficção — como o icônico Batman —, os morcegos podem representar sérios riscos à saúde humana. Na última semana, a jornalista Rosane Serro foi mordida por um desses mamíferos voadores dentro de seu apartamento na Zona Sul do Rio de Janeiro, enquanto assistia à televisão no sofá da sala.
O ataque foi inesperado, mas os sinais deixados pelo animal — urina, fezes e movimentação incomum — permitiram que Rosane identificasse o problema e buscasse ajuda médica rapidamente.
A jornalista procurou atendimento no Hospital Rocha Maia, em Botafogo, o único no município com um Centro de Referência de Imunobiológicos Especiais (CRIE), responsável pela imunização contra mordidas de animais silvestres e domésticos. No local, ela apresentou inchaço no braço esquerdo, além de dormência do pulso até a axila.
Após ser atendida, a dormência foi superada por volta das 19h. Enfermeiras do Super Centro Carioca de Vacinação, que funciona no hospital, confirmaram a mordida. Rosane também recebeu atendimento no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI) e na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Vacinação contra raiva e cuidados imediatos
A rápida visualização do morcego foi determinante para a aplicação do protocolo vacinal, que inclui:
- Aplicação da vacina antirrábica e antitetânica;
- istração imediata do soro antirrábico.
O esquema vacinal contra raiva dura 15 dias e deve ser iniciado em até 24 horas após o ataque. As doses subsequentes ocorrem no 3º, 8º e 15º dias após o início do tratamento. O protocolo exige que as etapas sejam seguidas rigorosamente. O soro antirrábico, crucial para a imunização, precisa ser aplicado imediatamente — mesmo pacientes vacinados podem morrer de raiva se não receberem o soro.
Fezes e urina de morcego também transmitem doenças graves
Mesmo sem mordida, o contato com fezes e urina de morcego pode causar doenças. Entre elas:
- Histoplasmose: afeta pulmões, baço e fígado;
- Criptococose: pode evoluir para meningite e levar à morte;
- Leptospirose: transmitida pela urina, caso o animal esteja contaminado por determinadas bactérias.
Rosane relatou tosse persistente, sintoma comum da criptococose, desenvolvida após contato com fezes deixadas pelo morcego em sua casa. Ela alerta: as fezes não devem ser varridas, pois os esporos se dispersam no ar. Segundo ela, os dejetos são pequenos, pegajosos e grudam facilmente em superfícies.
Ação da Prefeitura e análise laboratorial
Rosane acionou o número 1746 da Central de Atendimento ao Cidadão. Uma equipe de Investigação Zoossanitária do Centro de Controle de Zoonoses foi enviada ao local no mesmo dia. O agente Rafael Pereira, com 20 anos de atuação na Prefeitura e no SUS, encontrou um morcego morto, provavelmente por fome — a espécie era insetívora e pode consumir até 150 insetos por dia.
O animal foi encaminhado ao Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman, responsável por análises laboratoriais que monitoram riscos à saúde pública.
Perigos do contato com morcegos: até o toque pode ser fatal
Segundo Rafael Pereira, até o simples toque em um morcego pode causar infecção por raiva. Ele relata o caso de um jovem de 22 anos que morreu após acariciar um morcego encontrado pela família em uma piscina.
Rafael alerta: todos os morcegos podem transmitir raiva. O contato com saliva (lambidas), arranhões ou mordidas é altamente perigoso. Animais domésticos, como cães e gatos, também devem ser vacinados anualmente, independentemente da idade ou do o à rua.
Limpeza hospitalar e prejuízo financeiro
Diante da contaminação por dejetos biológicos, Rosane precisou contratar uma empresa especializada em limpeza hospitalar para higienizar seu apartamento. O custo elevado a levou a contrair um empréstimo. O sofá onde foram encontradas fezes foi doado, por motivo de trauma.
Morcegos mais comuns no Rio de Janeiro
O Brasil abriga cerca de 182 espécies de morcegos, sendo que 84 podem viver em áreas urbanas. No Rio de Janeiro, os mais comuns pertencem às famílias Phyllostomidae e Molossidae:
Família Phyllostomidae:
- Artibeus lituratus: frugívoro, com listras na face; ajuda na dispersão de sementes.
- Platyrrhinus lineatus: frugívoro, também contribui para polinização.
- Glossophaga soricina: nectarívoro e polinívoro, poliniza flores à noite.
- Desmodus rotundus: conhecido como morcego-vampiro, se alimenta de sangue de animais; principal transmissor da raiva.
Família Molossidae:
- Molossus molossus: insetívoro, adaptado ao meio urbano.
- Tadarida brasiliensis: insetívoro que forma colônias em telhados e pontes.
Na Lagoa Rodrigo de Freitas, pode-se observar o morcego-pescador, que se alimenta de peixes.
O que fazer em caso de ataque ou contato com morcegos
- Lave imediatamente a área afetada com água corrente e sabão;
- Procure atendimento médico urgente para avaliação e início do protocolo vacinal;
- Evite contato com morcegos — principalmente os encontrados no chão, voando de dia ou em locais incomuns;
- Isole o local onde o animal morto foi encontrado. Se vivo, cubra-o com um balde até a chegada da equipe da Prefeitura.
Importante: morcegos são protegidos por lei
A Lei Federal nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais) proíbe a caça, perseguição ou eliminação de morcegos. Esses animais silvestres são essenciais para o equilíbrio ecológico, participando da polinização e dispersão de sementes.
Descumprir a legislação pode resultar em multas e até prisão. A responsabilidade de controle populacional e vigilância cabe às secretarias municipais de Saúde, em parceria com instituições de pesquisa.
Atualmente, na Barra, onde moro, está infestada de mosquitos, que também transmitem doenças. O morcego se alimenta de insetos? Pode estabelecer um equilíbrio biológico.
Coitado do morcego, corre o risco de morrer infectado.