O Glorioso 16 de Maio
Em 16 de maio de 2025, celebramos 100 anos do nascimento de Nilton Santos, o maior lateral-esquerdo da história do futebol mundial. Por isso, esta data é oficialmente reconhecida como o Dia do Botafogo de Futebol e Regatas, conforme a Lei nº 5.064, de 2007, aprovada pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro.
A escolha da data não é casual. Nilton Santos não foi apenas um jogador. Ele foi — e ainda é — a alma do Botafogo, o símbolo maior de sua história, e uma das figuras mais respeitadas do futebol brasileiro. Tão fiel foi à sua essência que só vestiu duas camisas em toda a vida: a do Botafogo e a da Seleção Brasileira.
A Enciclopédia em campo
Nascido na Ilha do Governador em 1925, Nilton Santos jogou de 1948 a 1964 pelo Botafogo. Foram 723 partidas, número que até hoje é recorde absoluto no clube. Conquistou quatro Campeonatos Cariocas, dois Torneios Rio-São Paulo e, pela Seleção Brasileira, foi bicampeão mundial em 1958 e 1962.
Ele não era só um defensor. Era um criador. Foi o primeiro lateral-esquerdo a ultraar a linha do meio de campo com propósito ofensivo, transformando a posição para sempre. O gol contra a Áustria, na Copa de 1958, é um marco disso: arrancou do campo de defesa, ignorou os pedidos para recuar, entrou na área e marcou. Vicente Feola, técnico da Seleção, ou da apreensão à iração: os laterais nunca mais jogaram do mesmo jeito.
Por essas e outras, recebeu o apelido de “Enciclopédia do Futebol”, consagrado nas transmissões de Waldir Amaral. Não apenas sabia tudo: ele jogava como quem escrevia a história em tempo real.
Garrincha, a travessura e o gesto de sabedoria
Entre os episódios lendários de sua vida, está o dia em que enfrentou, num treino, um certo jovem de pernas tortas chamado Garrincha. Ao ser sucessivamente driblado com malícia e talento, Nilton Santos não se irritou nem desdenhou. Apenas comentou:
“É melhor ter ele ao nosso lado do que como adversário.”
E assim, o maior lateral da história abriu as portas do Botafogo para o maior ponta-direita de todos os tempos. Mais do que reconhecer o talento alheio, Nilton mostrou grandeza de espírito, humildade e visão — características que o acompanharam dentro e fora de campo.
Nilton Santos sabia reconhecer um gênio quando via um. Mais do que isso, sabia abrir espaço para ele.
A loja, o bairro, o menino do Pedro II
Depois de encerrar a carreira, Nilton Santos abriu uma loja de artigos esportivos na Rua Voluntários da Pátria, ao lado de onde hoje funciona a Cobal de Botafogo. Para mim, que estudava no Colégio Pedro II do Humaitá, aquela loja tornou-se um verdadeiro santuário do futebol.
Eu e alguns colegas — todos apaixonados pelo Glorioso — saíamos da escola e íamos até lá. Minha família era pobre, e eu não tinha dinheiro para comprar materiais esportivos. Minha mãe sempre diz que ela e meu pai, imigrantes portugueses. Aqui, chegaram “com uma mão na frente e outra atrás”. Assim, a verdade é que minha prioridade ao frequentar aquela loja era outra e não fazer compras: ouvir Nilton Santos contar causos do Botafogo, das Copas do Mundo, dos tempos do Garrincha, dos jogos épicos no Maracanã.
Ele nos recebia com generosidade e paciência. Era um ídolo — mas falava conosco como se fôssemos velhos amigos. E nós, meninos atentos, saíamos dali sempre mais botafoguenses do que entrávamos. Naquela loja modesta, aprendíamos mais sobre futebol do que em qualquer livro.
O reconhecimento do mundo
Nilton Santos está entre os jogadores mais reverenciados da história do futebol mundial, com homenagens formais da FIFA e de outras entidades internacionais.
Em 2000, foi eleito pela FIFA como o melhor lateral-esquerdo da história de todos os tempos.
Em 2004, integrou a prestigiada lista FIFA 100, elaborada por Pelé com os 125 maiores jogadores vivos da história.
O número 100 da lista não corresponde ao total de jogadores indicados, que são 125 — 123 homens e 2 mulheres. Pelé, convidado pela FIFA a escolher 50 jogadores ativos e 50 aposentados de uma lista de 300, achou difícil se limitar e acabou selecionando 50 jogadores em atividade e 75 já aposentados.
Em 2009, recebeu o prêmio Golden Foot (Legends Award), destinado a lendas do futebol que marcaram época com classe e carisma.
Também foi incluído na World Team of the 20th Century, seleção histórica dos maiores nomes do século XX.
Essas distinções confirmam o que nós, botafoguenses, já sabíamos há muito tempo: Nilton Santos é eterno — no Brasil, no mundo, no futebol.
Salubérrima eternidade
Nilton Santos faleceu em 27 de novembro de 2013, aos 88 anos, em decorrência de pneumonia agravada por Alzheimer e insuficiência cardíaca. Mas como escreveu Nelson Rodrigues, Nilton entrou para a galeria dos imortais com sua “salubérrima eternidade” — termo que celebrava não só sua longevidade em campo, mas sua grandeza moral e estética.
Armando Nogueira, que o conhecia de perto, dizia que Nilton “tinha o dom de aveludar a bola quase sempre áspera que ronda uma pequena área”. Era defensor, mas sabia atacar com leveza. Era craque, mas jamais deixou de ser simples.
Desfilou pela Vila Isabel em 2002, foi homenageado em samba-enredo, teve seu nome eternizado no estádio do Botafogo e, mais importante, vive em cada torcedor que veste o preto e branco com orgulho.
Os 100 anos e o eterno agradecimento
Neste 16 de maio de 2025, Nilton Santos completaria 100 anos. E, mesmo ausente fisicamente, ele continua presente em cada torcedor que acredita no futebol como arte e identidade. Nilton simboliza muita coisa: o amor pela camisa, a fidelidade de um jogador a um clube, a construção de uma Seleção Brasileira campeã do mundo, a transformação da lateral em poesia ofensiva.
Ele era gigante, mas ível. Era craque, mas modesto. Era gênio, mas de alma simples. E, para mim, que o vi de perto em sua loja no Humaitá, ele será sempre o professor que me ensinou o que é amar o Botafogo.
Parabéns, Nilton Santos. E obrigado por tudo.
Hoje é Dia do Botafogo. Hoje é o teu dia.
E enquanto houver um botafoguense em pé, tua estrela seguirá brilhando.